Xenotransplantes é como são chamados os transplantes de órgãos entre espécies diferentes. Os porcos são os mais estudados, por serem considerados os melhores doadores. Isso se deve tanto à anatomia de seus órgãos, mais semelhante à dos seres humanos, quanto ao fato de eles serem criados e abatidos em grande número para consumo.
Além disso, esses animais têm uma gestação de quatro meses, com muitos filhotes, e já existe uma tecnologia estabelecida para sua criação comercial. Dessa forma, o uso dos seus órgãos para transplantes é mais bem aceito pela sociedade.
O risco de rejeição
A principal dificuldade relacionada ao transplante de órgãos de porcos para seres humanos é o fenômeno da rejeição. Ela acontece por conta de determinados antígenos presentes no organismo dos suínos que o corpo humano não suporta, levando à rejeição imediata.
Diante disso, percebeu-se que seria preciso modificar geneticamente os suínos candidatos à doação, a fim de “silenciar” os genes identificados como incompatíveis com os humanos. Por muitos anos, essa foi uma barreira intransponível devido à falta de conhecimento e tecnologia adequados.
O silenciamento dos genes se tornou possível através dos avanços da bioengenharia e da genética, começando pela clonagem da ovelha Dolly no final dos anos 1990, passando pelo sequenciamento completo do genoma humano no início dos anos 2000, até chegar à avançada técnica de edição de genes, conhecida como CRISPR, que permite “desligar” os genes que causam rejeição hiperaguda nos seres humanos.
Como é feito um xenotransplante?
O primeiro passo é silenciar os genes dos suínos que causam rejeição hiperaguda em humanos. Até o momento, não existe um consenso sobre quantos genes devem ser silenciados. Para isso, é necessário fazer a edição genética, desligando alguns genes em células de embriões de suínos para depois realizar sua clonagem – a mesma técnica que deu origem à ovelha Dolly.
Depois de editadas, as células dos suínos são transferidas para óvulos de matrizes que atuam como “barrigas de aluguel”. Por esse processo, obtêm-se os embriões sem os genes causadores da rejeição.
Os embriões geneticamente modificados são, então, inseridos em porcas. Dessas gestações nascerão leitões aptos a doar órgãos. Esses animais crescerão em ambientes completamente estéreis, para evitar qualquer tipo de contaminação.