A síndrome pós-covid, também conhecida como covid longa, é marcada por um conjunto de sintomas que permanecem afetando o paciente mesmo quatro semanas depois do início da fase aguda da doença — alguns desses sinais já começam a evoluir a partir da segunda semana. A condição pode perdurar por meses, principalmente se não houver tratamento adequado.
“Até 80% das pessoas infectadas com o coronavírus desenvolve a síndrome”, afirma o infectologista Fernando Gatti, coordenador médico do Controle de Infecção Hospitalar (CSIH) do Hospital Israelita Albert Einstein.
Embora casos graves da infecção culminem na covid longa com maior frequência, pessoas com quadros leves também podem manifestar sintomas por um longo período.
Quais são os sintomas da covid longa?
Um dos mais comuns é a fadiga. Segundo Gatti, ela chega a afetar 60% dos indivíduos com a síndrome pós-covid. Confira outros sintomas apontados pelo médico:
- Dor de cabeça (até 45% dos pacientes com covid longa)
- Desordens de atenção (até 30%)
- Queda de cabelo (até 25%)
- Perda de capacidade respiratória ou falta de ar(até 25%)
- Perda de olfato (até 21%)
- Palpitação cardíaca (11%)
- Miocardite, uma inflamação em parte do coração (1%)
- Insuficiência renal (1%)
Insônia, perda muscular, dificuldade de locomoção, disfunção sexual, vertigem e outros sinais também integram a condição. Lembre-se de que todos esses sintomas também podem surgir na fase aguda da covid-19. Mas eles só são enquadrados dentro da definição da covid longa se persistirem por mais de quatro semanas.
Além disso, Gatti chama atenção para repercussões da síndrome na mente e em distúrbios do humor. Entre elas, destacam-se a ansiedade, comum em até 12% das pessoas, e a depressão (12%).
O que causa a covid longa?
Existem diferentes motivos para o surgimento dessa síndrome. A primeira envolve a ação direta do vírus. Ao contrário do que muita gente ainda pensa, o Sars-CoV-2 é capaz de invadir diferentes tecidos do corpo, causando danos diversos que podem perdurar por bastante tempo. “Trata-se de uma doença sistêmica”, reforça Gatti. Coração, rins e outros órgãos não raro são acometidos pela covid-19, o que dispara uma série dos sintomas já mencionados.
Além disso, o processo inflamatório que o organismo desencadeia para responder à infecção também pode se estender. Mesmo depois que o vírus já desapareceu do corpo, alguns pacientes apresentam um alto grau de inflamação, que contribui para a síndrome pós-covid.
E não dá para desprezar também o aspecto emocional. Desenvolver uma doença responsável por uma pandemia sem precedentes nas últimas décadas gera muito estresse e preocupação. A situação afeta o sistema imunológico e, acima disso, contribui para cansaço, ansiedade e depressão, além de eventualmente intensificar outros sintomas.
“Por isso os profissionais de saúde devem examinar o indivíduo com bastante atenção para realmente compreenderem o que está causando a síndrome e quais suas repercussões. A partir daí, é possível pensar no melhor tratamento para cada um”, ressalta Gatti. Via de regra, uma equipe multidisciplinar deve participar dos cuidados.
De acordo com Gatti, é muito importante seguir monitorando o paciente após a fase aguda da infecção justamente para abreviar ou conter sintomas da covid longa. “Não podemos ficar achando que a doença vai passar”, reitera. Com acompanhamento, há como minimizar os efeitos desse problema.