O transtorno do déficit de atenção com hiperatividade (TDAH) é uma disfunção neurocomportamental que se caracteriza principalmente por desatenção, inquietude e impulsividade. Costuma surgir na infância e pode persistir na fase adulta, afetando a vida social, profissional e o processo de aprendizagem. Frequentemente, o paciente pode apresentar outras questões emocionais, como ansiedade, depressão e estresse.
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Estudos sugerem haver um forte componente genético, comumente com pais também diagnosticados com o transtorno. A identificação do TDAH é feita de modo clínico, ou seja, o médico avalia o paciente, aplica questionários e pode contar com testes específicos. Meninos e meninas apresentam sintomas semelhantes, embora a hiperatividade possa ser menos intensa nas meninas.
Estima-se que de 3% a 5% das crianças tenham o transtorno, que passou a ser identificado com mais precisão e frequência há poucos anos. Justamente por isso, ainda persistem questionamentos sobre a existência do TDAH, embora ele seja reconhecido pela OMS (Organização Mundial da Saúde) e tenha diversos estudos em muitos países.
Identificando o transtorno
Crianças com TDAH podem apresentar dificuldade de concentração, especialmente em atividades que requerem esforço intelectual prolongado. É comum o paciente responder perguntas antes de elas serem concluídas, evidenciando a inquietude. Esquecimento também é frequente, dando a impressão da criança estar sempre distraída.
Existem escalas de pontuação do comportamento, que auxiliam o especialista no fechamento do diagnóstico. Uma delas é composta de 18 itens, sendo nove relacionados à atenção e os demais à impulsividade/hiperatividade. Confira logo abaixo:
- Não consegue prestar muita atenção a detalhes ou comete muitos erros por descuido nos trabalhos da escola ou tarefas;
- Tem dificuldade de manter atenção em tarefas ou atividades de lazer;
- Parece não estar ouvindo quando fala diretamente com a pessoa;
- Não segue instruções até o fim e não termina deveres da escola, tarefas ou obrigações;
- Tem dificuldade para entregar tarefas e atividades;
- Evita, não gosta ou se envolve contra a vontade em tarefas que exigem esforço mental prolongado;
- Perde coisas necessárias para as atividades (brinquedos, deveres de escola, lápis, livros etc.);
- Distrai-se com estímulos externos;
- É esquecido em atividades cotidianas;
- Mexe com as mãos, os pés ou se remexe na cadeira;
- Sai do lugar na sala de aula ou em outras situações em que se espera que fique sentado;
- Corre de um lado para o outro ou sobe demais nas coisas em situações em que isso é inapropriado;
- Tem dificuldade em brincar ou envolver-se em atividades de lazer de forma calma;
- Não para ou frequentemente está “a mil por hora”;
- Fala em excesso;
- Responde às perguntas de forma precipitada antes de elas terem sido terminadas;
- Tem dificuldade de esperar a sua vez;
- Interrompe os outros ou se intromete (conversas, jogos etc.).
Quadro clínico
O quadro clínico pode variar conforme apresentação do transtorno. Crianças com predominância de desatenção têm dificuldade de se ater a detalhes e acompanhar longas instruções. O rendimento escolar costuma ser prejudicado. Organização e planejamento, que requerem concentração, acabam afetados.
Já no caso de predominância da hiperatividade, a criança pode falar em excesso, demonstrar inquietude com mãos e pés, andar muito de um lado para outro e não conseguir esperar a sua vez.
Estima-se que 15% das crianças com TDAH se tornem adultos com sintomas completos, enquanto 65% conseguem remissão parcial dos sintomas. A desatenção é uma das características que tende a persistir. Não raro, o adulto com TDAH parece não prestar atenção quando falam diretamente com ele.
Tratamento
O SUS disponibiliza atendimento para pessoas em sofrimento psíquico por meio dos serviços da Rede de Atenção Psicossocial (RAPS). A Atenção Primária à Saúde é a porta de entrada para o cuidado.
O tratamento para pacientes com TDAH deve ser multifatorial, podendo combinar medicamentos, orientações a pais e professores e terapia cognitivo comportamental. Em casos específicos, quando há comprometimento da fala, um fonoaudiólogo é recomendado.
Importante ressaltar que TDAH não está necessariamente associado a menor capacidade cognitiva. Ou seja, a criança pode apresentar um desempenho baixo na escola, mas não por limitações em sua capacidade de compressão das coisas e sim pela combinação de inquietude e desatenção.
Com o tratamento adequado, mesmo que as dosagens dos medicamentos precisem ser ajustadas diversas vezes, o paciente consegue amenizar os sintomas e apresentar bom desempenho escolar e profissional.
Revisão Técnica: Sabrina Bernardez Pereira, Médica Economia da Saúde do Hospital Israelita Albert Einstein; especialista em Cardiologia pela SBC/AMB, doutorado em Ciências Cardiovasculares UFF.